
Nos últimos anos, testemunhamos uma explosão de ferramentas baseadas em IA — especialmente no universo SaaS. Mas algo curioso (e preocupante) aconteceu no design dessas experiências: todas começaram a parecer iguais.
Abra qualquer produto e veja por si mesmo. Em 9 de 10 casos, você vai se deparar com uma interface de chat, uma caixinha no canto da tela, pronta para receber comandos em linguagem natural. Simples? Sim. Mas limitante.
Estamos presos na era da “IA em formato de chat”. E isso já não é suficiente.
IA não é busca — é co-criação
Uma analogia comum para defender esse modelo é o Google: “Uma caixinha de busca gerou bilhões de usuários.” Mas essa comparação ignora um fator fundamental: busca é uma ação pontual; colaboração com IA é um processo criativo.
Quando buscamos algo, fazemos uma pergunta e recebemos uma resposta. Já na criação com IA, precisamos de ciclos de ideação, experimentação e refinamento. Isso exige mais do que uma conversa linear — exige ferramentas, contexto, persistência visual e fluidez.
Interfaces baseadas exclusivamente em chat impõem um fluxo artificial ao usuário. Elas:
- Apagam o contexto conforme a conversa avança
- Não oferecem espaço visual para criar, testar ou comparar
- Transformam o usuário em um “engenheiro de prompts” em vez de um criador fluido
- Não se integram aos ambientes reais de trabalho (documentos, quadros, apresentações)
É como tentar editar um filme conversando por mensagens com o editor — sem ver o que ele está fazendo. Pode funcionar para pequenos ajustes, mas não para um processo criativo completo.
O que vem a seguir: IA integrada ao espaço de trabalho
O futuro do UX da IA está na experiência híbrida, em que o usuário e a IA compartilham o mesmo ambiente de trabalho. Um modelo de dois painéis, com funções distintas e complementares:
- Painel 1: O Espaço de Criação – onde o trabalho realmente acontece. Pode ser um documento, uma planilha, um canvas de design, uma apresentação.
- Painel 2: A IA Colaboradora – integrada ao contexto, sugerindo, editando, prototipando dentro da experiência, e não à parte.
Imagine a IA revisando um documento ao seu lado, destacando trechos que precisam de reestruturação, sugerindo alternativas e comparando versões com você. Ou uma IA em um projeto de design, mostrando variações diretamente no quadro, sem precisar descrever nada em palavras.
Essas experiências já começaram a surgir em ferramentas como o Notion AI, Figma, Canva, Coda e até mesmo editores de código com copilotos inteligentes. Mas isso ainda é exceção, não regra.
Chat é um ótimo ponto de partida — mas não pode ser o destino
O chat foi essencial para popularizar a IA. Tornou acessível o que antes era técnico e distante. Mas agora que os usuários já entenderam o poder dessa tecnologia, é hora de devolver a eles o controle criativo.
A IA precisa estar no ato da criação — lado a lado com o usuário, no mesmo espaço, atuando como uma parceira, e não uma assistente à parte.
As empresas que, em 2025, ainda estiverem lançando produtos de IA baseados somente em chat vão perder espaço para aquelas que estiverem criando experiências de IA nativas do fluxo de trabalho.
A caixa de chat nos ensinou a pedalar. Mas se quisermos ir mais longe, é hora de deixar as rodinhas para trás.
Se você está construindo experiências com IA, a pergunta não é: “O usuário pode conversar com a IA?” Mas sim: “Eles podem construir algo juntos?”